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10/12/2018

Entenda como a meditação treina seu cérebro e melhora a produtividade

Técnicas trabalham a atenção e o controle emocional, ajudando no processo de tomada de decisões

Pense na quantidade de estímulos que uma pessoa recebe diariamente, do despertar até a hora de ir dormir. São sons do ambiente, sensações corporais, imagens, lembretes das tarefas a serem feitas e trechos daquela conversa importante que você teve ontem, entre muitas outras coisas. Nesse fluxo constante de dados que nosso cérebro recebe ou recupera da memória, precisamos filtrar o que é prioridade no momento, ou seja, direcionarmos nossa atenção. Nem sempre é uma tarefa fácil, principalmente com os elementos que nos distraem e estressam na vida cotidiana. Existem, porém, maneiras de treinar a mente para se concentrar. Uma delas é a meditação, que vem ganhando cada vez mais popularidade.

O psicólogo Robert Sternberg, professor de Desenvolvimento Humano Universidade Cornell (EUA), dá a definição científica para a atenção no livro Psicologia Cognitiva (2006): “É o meio pelo qual processamos ativamente uma quantidade limitada de informação a partir da enorme quantidade disponível através de nossos sentidos, de nossas memórias armazenadas e de nossos outros processos cognitivos.”

É importante notar a palavra “limitada” na definição de Sternberg. A ciência sabe, há várias décadas, que a atenção é um recurso escasso: pode ser dividida para realizar tarefas, mas dificilmente o desempenho em cada uma delas será tão bom quanto realizá-las separadamente, mesmo que a prática tenda a melhorar os resultados.

Trocar de tarefa rapidamente, atitude típica da navegação na internet e nas redes sociais, mas comum na maneira de trabalhar de muitos profissionais, também pode prejudicar o foco na resolução de demandas mais complexas, que precisam de concentração direcionada a um tema.

“Criou-se esta lenda de que só é legal quem está ocupado o tempo inteiro, ou de quem faz dez coisas ao mesmo tempo, e nosso cérebro processa, conscientemente, uma tarefa de cada vez. Então, em vez de achar que estou sendo superprodutivo, na verdade, deixo de sê-lo, porque quando pulo de uma atividade para a outra vou perdendo tempo, e o cérebro gasta mais energia. Quando a gente treina a atenção, fica mais produtivo ao fazer uma coisa de cada vez”, explica a fundadora do Instituto Latino Americano de Mindfulness (Ilamb), Marina Neumann.

Nos treinamentos em mindfulness que ministra, Marina diz que costuma fazer um exercício com os participantes: primeiro, eles têm de resolver duas tarefas simultaneamente e, depois, uma por vez. “O que tenho medido é que, quando você faz uma atividade de cada vez, há cerca de 60% de ganho [na produtividade]. As pessoas estão acostumadas a fazer tanta coisa que parece que o cérebro se vicia nisso. Falam para as crianças prestarem atenção, mas ninguém as ensina como fazer isso.”


Meditar para tomar decisões mais conscientes

Marina Neumann explica que as técnicas do mindfulness são milenares e vêm do budismo, mas não têm qualquer conteúdo religioso. “Foi só em 1979 que um pesquisador da Universidade de Massachusetts, Jon Kabat-Zin, teve um insight de adaptar essas práticas, tirar o conteúdo religioso e trazer num formato que pudesse chegar a mais pessoas”, conta. “A meditação é uma família imensa, existem muitos tipos de práticas, muitas associadas a questões religiosas, e outras simplesmente a prestar atenção ao que está acontecendo naquele momento.”

A ciência vem se interessando cada vez mais pelos efeitos da meditação no cérebro humano. O que se sabe com relativa certeza é que meditadores experientes têm as conexões do córtex pré-frontal mais desenvolvidas. Essa área do cérebro é associada ao planejamento, à tomada de decisões, à empatia e à capacidade de resistir a impulsos.

A evolução humana favoreceu um cérebro voltado a identificar ameaças, às quais tende a reagir de maneira instintiva. O medo, relacionado à estrutura encefálica conhecida como “amígdala”, foi uma das emoções mais importantes para que sobrevivêssemos no mundo no qual fomos uma espécie bastante frágil durante centenas de milhares de anos – nesse cenário, ter uma reação quase imediata de lutar ou fugir diante de um perigo era essencial. Atualmente, embora esse mecanismo continue sendo importante para nos protegermos, também pode causar problemas: em uma situação difícil no trabalho, por exemplo, o estresse ativa esse modo de sobrevivência, que faz com que possamos ter reações menos racionais e deixemos de analisar com calma as possibilidades para solucionar o problema.

A meditação, portanto, não treina o cérebro somente para se concentrar no momento presente, mas ajuda a fazer a regulação emocional. “Não conseguimos mudar diversas circunstâncias ao nosso redor ou que são interiores – às vezes, temos uma questão emocional ou física –, mas podemos nos relacionar de uma forma diferente com o ambiente ou conosco. O mindfulness também aborda uma questão de clareza, de você realmente ver uma situação como ela é, nem mais nem menos. Quando temos essa consciência, podemos tomar decisões melhores.”

Executivo com 20 anos de atuação no mercado de tecnologia, Michel Gobbato conta que quis aprender as técnicas de mindfulness por uma questão de saúde e para “acalmar a mente”. Com as constantes viagens internacionais que faz, mesmo mantendo uma rotina de exercícios físicos, ele percebeu a necessidade de trabalhar a mente.

“Bastante coisa mudou após o curso. Há boas técnicas, que comecei a aplicar no meu dia a dia. O tempo que paro e me foco pode ser de só três minutos, mas, para mim, parece que foi uma hora, que estou dedicando a mim”, diz. “Tem me ajudado na produtividade e a reparar ao meu redor, notar o que está acontecendo”, afirma.

Comunicação e empatia

Engenheira eletrônica de formação e com ampla experiência em gerir equipes no exterior, Marina Neumann afirma o mindfulness explora outras questões além da meditação, que ajudam nas questões pessoais e profissionais.

“Trabalhamos, por exemplo, algo relevantíssimo para as relações pessoais, mas principalmente nas empresas, que é a questão da comunicação, de conseguir ouvir o outro atentamente e tomar decisões baseadas na informações completa. Essa é uma das primeiras coisas que as pessoas no mundo corporativo relatam [após o curso]: ‘Agora, eu consigo ouvir, consigo acompanhar o raciocínio de uma pessoa”.

A instrutora de mindfulness também destaca a importância de treinar a empatia para tomar decisões acertadas. “Nas relações interpessoais, ao se colocar no lugar do outro, concordando ou não com a opinião dele, é mais fácil de chegar a consensos ou decisões que favoreçam o grupo como um todo”, explica.

Aplicativos de meditação

Os aplicativos de meditação vêm se tornando cada vez mais populares, atraentes pela praticidade e pelos baixos custos em relação aos cursos tradicionais. Há, inclusive, muitas opções gratuitas.

A psicóloga e neurocientista Nathalia Ishikawa Baptista, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, aponta que há diversos estudos sobre os prós e contras de usar esse tipo de aplicativo.

“Há o problema de não ter um controle sobre a qualidade das meditações guiadas. Não temos como saber se todas têm efeito positivo, pois são muitas disponíveis, mas existem artigos que apontam que aplicativos com breathing awareness meditation (BAM) são eficazes na diminuição da pressão arterial em pessoas hipertensas”, afirma. “O que se discute é a aderência ao tratamento, pois depende totalmente do comprometimento e da disciplina de cada indivíduo para garantir a dosagem certa”, alerta a neurocientista.

“Hoje em dia, existem mil aplicativos que muita gente usa, mas podem surgir questões de dúvidas durante a meditação”, afirma Marina Neumann. “O próprio compartilhamento com outras pessoas aprofunda a prática, por isso, é legal começar com alguém experiente, que esteja preparado. Você pode até entrar na selva e sair do outro lado, mas vai demorar muito mais e talvez faça caminhos que não sejam os mais saudáveis”, opina.

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