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21/09/2019

Análise

Contabilidade para startups exige indicadores específicos

Especialistas do GBrasil analisam perfil do novo tipo negócio e por que ele demanda mais atenção com dados contábeis

por Diva de Moura Borges

Um dos conceitos mais modernos de empresa startup é a de um negócio disruptivo e inovador, que traz uma forma nova de executar tarefas tradicionais, com um modelo repetível e escalável, exposto a um cenário de extrema incerteza. "Isso significa que não há como afirmar se aquela ideia inovadora irá realmente dar certo ou, ao menos, provar-se sustentável", explica Karina Dias Couto, diretora da Rui Cadete Consultores. Começaram nessa corda bamba empresas de sucesso como Facebook, Airbnb, Spotify, Uber e a brasileira EasyTaxi. Mas também há inúmeros exemplos icônicos de fracasso, como a de teste sanguíneo Theranos e a do buscador Altavista. Esses casos de derrocada, infelizmente, não são exceções, tanto no cenário internacional como no Brasil. Estudo da Fundação Dom Cabral aponta que 25% das startups brasileiras morrem em seu primeiro ano de atividade e que mais de 50% delas morrerão em até 4 anos de vida.


karina_e_rogerVariáveis como aportes de recursos insuficientes, desentendimento entre sócios, entrada de outras inovações preponderantes no mercado são frequentemente narradas nas experiências malsucedidas dessas startups. Entretanto, problemas associados à gestão costumam também dar uma rasteira mortal em muitas ideias inovadoras de negócio, promovendo perda de recursos e restrição de acesso aos investimentos de programas de aceleração. Essa é a avaliação de especialistas do GBrasil que atendem startups com vários serviços de gestão.

"A organização financeira é um dos maiores desafios. Os fundadores de startups geralmente tendem a focar no modelo de negócio e não na gestão da empresa. A contabilidade, nesse ponto, pode ter dificuldades com as poucas informações recebidas e a falta de organização", destaca Roger Kaufmann, gerente de atendimento da RG Contadores (GBrasil | Florianópolis - SC) que, desde 2015 mantém clientes nesse nicho. A realidade é atestada por Karina Couto: "Algumas empresas iniciam somente com aportes de investimentos e a intelectualidade dos sócios. Os empreendedores são geralmente pessoas de tecnologia, sem conhecimento sobre gestão e sobre a importância da contabilidade. Muitas vezes, a formalização é negligenciada por conta do foco na ideia".

Ambos os especialistas salientam que uma contabilidade acurada e a produção de indicadores confiáveis – muitos deles distintos de um empreendimento tradicional – são imprescindíveis para a viabilidade do negócio e para atrair investidores. "Além de tratar-se de uma obrigação para qualquer empresa, a contabilidade é fundamental para os potenciais investidores. É com base nela que eles decidem e, por isso, registros contábeis confiáveis agregam valor na avaliação", explica Kaufmann. Karina salienta que essas demonstrações são também extremamente importantes para determinar o ganho efetivo dos sócios iniciais, no caso de venda do negócio.

Bons indicadores e criatividade nos gastos
As análises de startups seguem também uma linha bem diferente das empresas normais. Para estas empresas, mais importante do que a liquidez ou o endividamento, é mostrar a capacidade de crescimento da receita e a sua escalabilidade. "Significa crescer cada vez mais, sem que isso influencie no modelo de negócios. Crescer em receita, mas com custos crescendo bem mais lentamente. Isso fará com que a margem seja cada vez maior, acumulando lucros e gerando cada vez mais riqueza", esclarece Karina. Outros dados sinalizadores são a taxa de retenção de clientes e o churn – quantidade de clientes que deixam de usar o produto/serviço. "Para os clientes que atendemos, além desses indicadores, apresentamos o Ebitda regularmente, para que eles acompanhem esse resultado que muitas vezes é utilizado como fator de avaliação nas aquisições desses negócios", explica Karina.

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Roger Kaufmann orienta o empreendedor a ser criterioso e também criativo na hora gastar o dinheiro. "Por exemplo, usar ferramentas gratuitas e redes sociais para alavancar os negócios, pois nem sempre 'queimar dinheiro' vai melhorar a performance de vendas". Ele cita o caso de uma startup de sucesso que, como recurso de divulgação do negócio, criou uma comunidade dentro de um grande site voltado para sua área.  "Por 3 anos foi a maior comunidade do site e ele não gastou nada, só gerou conteúdo. O empreendedor confessou que se tivesse dinheiro naquela época, pagaria uma fortuna para ser patrocinador do site". Outra dica do gerente de atendimento da RG Contadores é buscar o smart money. "Dinheiro de investidores experientes e profissionais que auxiliam na gestão, oferecem mentoria e network no mercado de atuação, conectando clientes, parceiros e fornecedores que agregam. Isso pode ser um diferencial no negócio", diz.

Rebeca Cavalcanti, da RC Assessoria Contábil (GBrasil | João Pessoa-PB), aconselha os empreendedores de startup a fazer planejamento mínimo para analisar a viabilidade do negócio, com o apoio de um contador.  "É possível ter uma noção do custo e, principalmente, dos prazos de legalização". Outro ponto é conversar bastante com os sócios sobre o papel de cada um na empresa, para que um não se ache "explorado" pelo outro. "A sociedade deve ser feita com cuidado e os papéis de cada um bem definidos", observa Rebeca. Ela sugere o uso de ferramentas como o Trello, que facilita a visualização das atividades de cada um, eliminando sensação de que só uma parte dos sócios está trabalhando. Outra dica da contadora é o acompanhamento atento dos editais de incentivo a startups e de programas de aceleração.


INFORMAÇÃO DE QUALIDADE E NO PRAZO COMBINADO

rodrigo-gregory-tsO engenheiro de produção Rodrigo Gregory, ex-consultor do Fundo Criatec do BNDES para a Região Sul do País e mentor de várias startups em programas como Inovativa Brasil e Social Good Brasil, é bastante criterioso quando o assunto é contabilidade. "Acompanhava cinco startups pelo Criatec e a contabilidade sempre era um problema; um desafio mesmo. Precisávamos encaminhar os dados de desempenho das empresas no 7º ou 8º dia útil do mês para os gestores e investidores do Fundo. Era um estresse muito grande porque o contador sempre atrasava devido à ausência de um ou outro relatório ou documento. Mas, eu entendia que a obrigação de cobrar dos gestores essas informações em tempo hábil também era dele", relata.

Foi nesse período que Gregory teve contato com a RG Contadores (GBrasil | Florianópolis-SC), que já possuía em carteira uma das empresas atendidas pelo Fundo. "O que mais nos chamou a atenção foi a postura dos profissionais, em especial o atendimento de interface, que era o Roger. Sempre vemos o contador como um cara que trabalha para o Governo, sem olhar ou defender os interesses do empresário. Com a equipe da RG era totalmente diferente. Notamos o cuidado em todos os aspectos: na emissão da nota fiscal, na escolha do CNAE, na interpretação e estudos das normas do setor, tudo da forma mais sensível à realidade do empresário. A informação sempre vinha com qualidade e no prazo combinado", relata.
 
Mais tarde, Gregory assumiu a gestão financeira da Nano Vetores S.A. levando consigo a experiência positiva da RG Contadores. Quando decidiu abraçar sua própria startup, em 2016, não teve dúvidas em trazer a empresa contábil como fornecedora. "Temos uma relação bem boa e transparente.  E isso é bom não somente para uma startup, mas para todas as empresas, todo tipo de negócio. E especialmente para as startups, que tomam riscos e geralmente operam em zonas cinzentas das leis, porque muita coisa não foi ainda regulamentada", afirma.

A startup de Gregory, a Troco Simples, foi originalmente montada em Lages (SC) e depois migrada para a capital, Florianópolis.  Sua solução atende varejistas e consumidores por meio de uma carteira de troco digital, aliviando a crise de falta de moedas no mercado.  A verdade é que 35% das 25 bilhões de moedas emitidas no Brasil se perderam ou estão guardadas em algum canto. E não existe previsão de novas emissões pelo Governo, já o que valor de produção das algumas moedas é bem maior do que o seu valor de face.  Com o Troco Simples, o cliente fornece o CPF e depois acessa uma carteira digital, que pode ser usada para novas compras, recarga de celular ou ter seu valor transferido para conta corrente.  Como depende de integração com sistemas PDV e TEF de varejistas e bancos, a solução atua apenas em alguns estados. Os cinco sócios da startup já captaram R$ 1 milhão de investidores-anjos e de programas de aceleração, como Darwin Startups, Liga Ventures e iDEXO.  Para acelerar o crescimento do negócio no País, pretendem captar até R$ 5 milhões nos próximos 12 meses.


ACELERANDO A CONTABILIDADE DE UMA SCALE-UP

bloco3aO crescimento exponencial da startup AutoForce, criada há quatro anos em Natal (RN), permitiu que ela fosse aprovada este ano em dois programas de aceleração: o Inovativa Brasil, do Ministério da Economia, e o Scale-Up, da Endeavor. Ela é dona do Autódromo, plataforma de marketing digital especializada no setor automotivo, que atende hoje 589 concessionárias em todo o País. Além de promover o crescimento em até 10 vezes das vendas digitais de seus clientes, neste ano a startup decidiu que era hora de acelerar o seu negócio na parte contábil.

"Devido ao nosso rápido crescimento, chamamos a atenção do mercado e de investidores. Isso nos exigiu uma nova postura em gestão, com determinação de métricas que possam traduzir o valuation da empresa. Percebemos que precisávamos ter um fornecedor contábil que pudesse acompanhar nosso ritmo", relata o CEO da AutoForce, Tiago Fernandes.

O grande desafio, segundo Fernandes, é que uma startup não é uma empresa convencional, ela busca validar seu modelo de negócio, que é de base tecnológica, e tem muitas incertezas. "As coisas mudam rápido e é preciso ajustar. Mas isso não significa que ela não tenha que ter indicadores financeiros precisos, do dinheiro que entra e sai, entender o grau de "felicidade" do cliente e se ele está efetivamente pagando por isso. E a contabilidade é muito importante nesse contexto".

Influenciada pelo bom conceito da empresa contábil e, também, por sua experiência com startups, a AutoForce contratou, em maio, serviços da Rui Cadete Consultores. "Sempre nos preocupamos desde o início com questões jurídico-contábeis e, logo no primeiro contato, percebemos o conhecimento da equipe Rui Cadete sobre nossa área. Eles entendem nosso jargão e dos indicadores que precisamos", afirma.

Nesse momento, a startup estuda a migração da empresa de LTDA para uma S.A. de capital fechado, assim como de um regime de tributação Simples para o de Lucro Presumido ou Lucro Real. A AutoForce começou com capital próprio dos sócios Tiago Fernandes, Isaiane de Mendonça, Clênio Cunha e Mateus Araújo e passou pela incubadora do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte). Desde então, a plataforma já gerou mais de R$ 550 milhões em faturamento para o setor automotivo.

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