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17/04/2019

Foco e força para crescer

Mercado brasileiro de academias é o segundo maior do mundo, com 34 mil empresas, mas setor ainda "patina" na receita anual, categoria na qual ocupa a décima colocação

Por Filipe Lopes

Cada vez mais brasileiros incluem a atividade física na rotina diária. Há 30 anos, as academias eram raras, e os praticantes, vistos como narcisistas que queriam tornar seus corpos desejáveis. Mas essa percepção ficou para trás, e, progressivamente, muita gente está incorporando os exercícios ao seu dia a dia, dos mais leves, como as caminhadas, até os de alto impacto, como as corridas e os treinos intensos. O entendimento de que tais práticas são fundamentais para se alcançar uma longevidade confortável impacta diretamente a economia: o mercado de academias no Brasil fatura US$ 2,1 bilhões por ano (em torno de R$ 7,7 bilhões, na cotação de janeiro), com 34,5 mil estabeleci - mentos. É o segundo maior do mundo, atrás dos Estados Unidos, que têm 36,5 mil unidades, de acordo com dados de 2017 da International Health, Racquet & Sportsclub Association (IHRSA).

Os números são expressivos, porém, a receita das unidades brasileiras deixa a desejar. No ranking mundial da IHRSA, o País ocupa a décima colocação. O Japão, que tem pouco menos de 6 mil academias, fatura anualmente US$ 5,5 bilhões – mais do que o dobro no Brasil. Além disso, aqui a adesão da população é de apenas 4,6%, com 9,6 milhões de frequentadores regulares. Se considerarmos que o País tem mais de 208 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda há muito espaço para crescer. Em nações menos populosas como Alemanha (81,4 milhões de habitantes) e Reino Unido (66,1 milhões), a média dos assíduos chega a 10 milhões.

Entre 2010 e 2017, o Brasil passou de 15 mil academias para mais de 34 mil, segundo dados da Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil). Esse boom, em menos de uma década, foi provocado pela expansão agressiva das academias low cost ("baixo custo"), como a Smart Fit, fundada em 2009 pelo Grupo Bio Ritmo. Na rede, a mensalidade mais barata custa R$ 69,90, valor bem abaixo da média de R$ 450 cobrada por marcas tradicionais, como a própria Bio Ritmo. Ao unir alta tecnologia nos equipamentos com preços mais acessíveis, a Smart Fit criou um modelo de sucesso nacional, com aproximadamente cem unidades inauguradas por ano. A meta é chegar a 2021 com mil estabelecimentos. Hoje, a empresa está presente em 25 Estados brasileiros, no Distrito Federal e em países como Chile, México, Colômbia, Peru, República Dominicana e Equador, tornando-se a maior rede de academias da América Latina, com 550 unidades, 1,8 milhão de alunos e faturamento anual de R$ 1 bilhão.

Segundo o presidente da Acad Brasil, o ex-nadador e medalhista olímpico Gus - tavo Borges, o modelo low cost foi acertadamente adaptado ao perfil da demanda do País. "Os estúdios no Brasil podem ser considerados uma tropicalização do modelo low cost, criado como forma de burlar os tempos difíceis", afirma Borges.

Hoje, o público busca atividades coletivas, personalizadas, descontraídas e que o desafie a superar limites. Focadas nessa abordagem, redes como a Bluefit – aberta em 2015, aproveitando o caminho pavimentado pela Smart Fit – aprimoram o serviço com a oferta de aulas de dança, artes marciais, aeróbicas e atividades funcionais, que deram à marca o status de academia completa e de baixo custo (mensalidade a partir de R$ 79,90). "As pessoas querem usufruir de estrutura moderna e com qualidade. Por isso, desde o começo oferecemos grande variedade de aulas coletivas, visando a atender aos novos anseios", aponta o CEO da empresa, Filippe Savoia.

Filippe Savoia, CEO da Bluefit aberta em 2015, academia aprimorou aulas de dança, artes marciais e atividades aeróbicasFilippe Savoia, CEO da Bluefit aberta em 2015, academia aprimorou aulas de dança, artes marciais e atividades aeróbicas

Essa receita parece dar certo, pois em menos de quatro anos no mercado, a Bluefit já é a segunda maior rede de academias do Brasil, com 60 unidades – destas, 40 são franqueadas –, presente em oito Estados brasileiros, com 150 mil alunos ativos matriculados e faturamento anual de R$ 150 milhões em 2018. 

Infográfico

Boxes em todo o Brasil 

Seguindo a mesma linha, surgiu forte em território nacional, também na última década, o conceito norte-americano de crossfit, criado na década de 1990 pelo ex-ginasta Greg Glassman (CrossFit Inc.). A modalidade consiste em atividades coletivas de curta duração (média de 30 minutos) e alta intensidade que combinam três modalidades esportivas: condicionamento metabólico, levantamento de peso e ginástica olímpica.

O primeiro box (galpão que abriga as atividades) do País foi o CrossFit Brasil, que abriu suas portas em São Paulo em 2009. Segundo o sócio da empresa, João de Abreu, a novidade caiu no gosto dos brasileiros por romper a monotonia da academia tradicional, que propõe exercícios repetitivos e resultados em longo prazo. Hoje, o box conta com cerca de 150 alunos. "No crossfit, as pessoas aprendem a entender o próprio corpo, melhorar a postura e a concentração e aumentar a consciência saudável. E o melhor: os resultados são rápidos", diz. Segundo ele, em dois meses o aluno já começa a notar a perda de gordura e o aumento de massa muscular. O empresário lembra que, nas academias de musculação tradicionais, os ganhos começam a partir do sexto mês.

O Brasil é o vice-líder entre os que mais ampliaram o número de boxes disponíveis. Em dezembro de 2018, alcançou a marca de 1.136, todos filiados à CrossFit Inc. Está atrás apenas dos Estados Unidos, campeões, com 7.036 boxes.

Diferentemente das academias low cost, os boxes de crossfit são destinados ao público das classes A e B, com mensalidades que partem de R$ 150 e quase chegam a R$ 1 mil, dependendo da região. Quem investe nesse segmento aposta na fidelidade dos alunos, que criam vínculos afetivos que vão além da prática esportiva, compondo verdadeiros clãs de praticantes. "O segredo é que somos como uma família, que se motiva, cresce e passa pelas dificuldades juntos", afirma o sócio do box Equifavela e cliente da Gatti Contabilidade, associada GBrasil em Porto Alegre (RS), Marcelo Jobim.

Marcelo Jobim, sócio do box Equifavela e cliente da Gatti Contabilidade, associada GBrasil em Porto Alegre (RS)Marcelo Jobim, sócio do box Equifavela e cliente da Gatti Contabilidade, associada GBrasil em Porto Alegre (RS)

"As academias estão se reinventando, porque o ser humano é social. Embora o crossfit seja mais caro, é uma forma de pôr a saúde em dia e reativar as relações sociais", destaca Jobim. Inaugurado em abril de 2018, o box é resultado do sucesso de uma equipe de corrida homônima, criada por amigos na capital gaúcha. "Nós nos reuníamos para correr e surgiu a ideia de montar um box de crossfit para termos um lugar fixo para treinar. A adesão foi tão boa que, em apenas três meses, o box já estava se pagando", aponta Jobim. O galpão abriga cerca de 150 alunos, mas deve alcançar 250 (lotação máxima) até o fim deste ano.

Peso dos tributos

Mesmo com o sucesso crescente, o setor encara dois grandes vilões. O primeiro é o reflexo da crise econômica brasileira, que afetou o poder de consumo das famílias. O outro são os tributos. Além dos impostos sobre faturamento e resultados, as academias pagam o Imposto sobre Serviços (ISS), cuja alíquota varia conforme o município (entre 2% e 5%).

Para quem deseja empreender no ramo, na hora da compra dos equipamentos há a incidência do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) e do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS). No caso dos que recorrem a materiais importados, existem duas formas de tributação: a Declaração de Importação (DI) e a Declaração Simplificada de Importação (DSI). A forma simplificada tem alíquota de 60% sobre o valor aduaneiro da mercadoria, que não pode ultrapassar de US$ 3 mil, acrescido o ICMS do Estado de destino.

O valor aduaneiro é composto pela soma do valor dos bens integrantes da remessa postal, acrescida do custo de transporte e seguro. Se o produto ultrapassar os US$ 3 mil, é preciso fazer a DI, que exige a contratação de uma empresa despachante para legalizar a encomenda. Nesse caso, a tributação é definida por meio da NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul) do produto. E poderá incidir ICMS, IPI, PIS, Cofins, 1% de Cofins adicional e taxas e despesas aduaneiras. "Há ainda o Imposto de Importação (II), que é composto por mais uma variável além da NCM. É preciso analisar o país de origem do produto, que depende dos acordos comerciais que o Brasil mantém (tipo Mercosul, Brics, Aladi, Mercado Comum Europeu, Nafta, Tigres Asiáticos etc.)", explica o sócio da Gatti Contabilidade, Maurício Gatti.

Segundo o CEO da rede Bluefit, o custo para montar uma academia low cost, é, em média, de R$ 3 milhões. Metade é destinada às obras estruturais. A outra parte vai para a compra de equipamentos. No crossfit, os valores são inferiores e somam cerca de R$ 500 mil para montar um box, mas a maioria dos equipamentos ainda é importada. 

Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n.º 10.669/18, do deputado Felipe Carreras (PSB/PE), que pretende isentar as academias do IPI e do imposto sobre importação que incidem sobre todo o equipamento para exercícios físicos. Segundo Carreras, a ação pretende estimular a prática de atividades físicas pela população, oferecendo serviços de maior qualidade e menor preço. 

Gestão qualificada

Para Gustavo Borges, a falta de qualificação parece ter ficado para trás. Há pouco mais de uma década, o setor vivenciava certo amadorismo em relação à gestão das academias – geralmente administradas por profissionais de educação física que se tornavam gestores. Esse perfil mudou. "Quem está no comando das grandes redes é o empresário que vem de outros mercados, há investimento internacional, e o proprietário tem procurado fazer cursos de gestão para administrar melhor", afirma o ex-nadador. Savoia, da Bluefit, ressalta que "as grandes redes trouxeram inovação e qualidade, obrigando as academias de bairro a se mexerem para não morrer".

 Gustavo Borges, presidente da Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil)Gustavo Borges, presidente da Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil)

O modelo de franquias também pode ter ajudado a qualificar melhor o setor, uma vez que seu sucesso depende da gestão profissional e linear das unidades. E muitas academias pequenas, de bairro, adotaram modelo similar ao das grandes corporações. Para se ter uma ideia do nível de profissionalismo e exigência, a CrossFit Inc. tem regras rígidas para "emprestar" sua marca. Além da cobrança anual de royalties (US$ 3 mil por unidade), a companhia aplica cursos de modernização de aulas (novas abordagens e formas de motivar os alunos) e treinamentos mais eficientes, destinados aos proprietários e professores das associadas a ela.

Apesar dos desafios, há boas perspectivas de expansão entre as principais redes. A Bluefit conta com parceiros públicos e privados para aumentar sua rede e encoraja investimentos em longo prazo. "Se tudo correr bem, pretendemos encerrar 2019 com 150 unidades. E, em dois anos, iniciar a internacionalização da marca nos países da América do Sul, como Argentina e Colômbia, e, depois, na Europa", ressalta Savoia.

Segundo projeção da Acad Brasil, o mercado pode crescer, em média, 8% neste ano. "Trata-se de um futuro promissor, que ainda pode levar um tempo para se consolidar, mas que tem tudo para ser positivo", afirma Borges.

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