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24/03/2020

Séries Especiais

Mulheres na Contabilidade: trajetória de profissionalismo e conquista de espaços

Empresárias contadoras de associadas do GBrasil falam sobre participação feminina nos escritórios e nas decisões da categoria

Pamela Mascarenhas

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o portal do GBrasil Contabilidade dá destaque para a carreira e a voz de mulheres contadoras. Elas nos contam um pouco sobre conquistas e ações coletivas e individuais para fortalecer o profissionalismo e garantir visibilidade e participação, e analisam as transformações já visíveis neste mercado de trabalho. As mulheres são 42,77% dos contadores no país, segundo dados do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), referentes a 2019. Em 1996, esta participação estava em 27,45%. Quando o assunto é presença em postos de decisão, as mulheres ocupam hoje três vice-presidências no CFC e dez mulheres estão à frente de Conselhos Regionais (CRCs), segundo a mesma entidade.

A diretora da Eaco Consultoria e Contabilidade, Dolores Biasi Locatelli, é uma das forças de incentivo neste movimento. No início da virada do século, ela percebeu que a participação de mulheres em entidades e associações representativas ainda era mínima, e então criou o IPMCONT, Instituto Paranaense da Mulher Contabilista, junto com outras colegas. O objetivo principal era fortalecer o papel da profissional contábil na sociedade, por meio do aprimoramento técnico-cultural e ações de incentivo a uma maior participação das mulheres nas entidades de classe, na vida social e política do país.

“Eu fui conselheira do CRC [Conselho Regional de Contabilidade, do Paraná] muitos anos atrás. Eu era sozinha como mulher. Éramos 16 pessoas – 15 homens e só eu de mulher. Eu fiquei dois anos participando. Aí eu percebi a falta da presença das mulheres e organizei um grupo para preparar mulheres para assumir funções na sociedade. Porque não adianta querer ir [para um cargo específico] sem estar preparado. Então, a gente fazia palestras, por exemplo, de como usar microfone, falar em público. Fizemos palestras de terceiro setor, sobre recursos tecnológicos, de motivação. Hoje, o grupo continua atuando. Somos quarenta e poucas mulheres, todas profissionais de Contabilidade do Paraná”, conta Dolores.

De uma geração mais jovem, Rebeca Cavalcanti, diretora comercial da RC Assessoria Contábil (GBrasil | João Pessoa - PB), se formou em Contabilidade em 2018. Rebeca foi liderança na abertura de uma Empresa Júnior de Contabilidade na universidade em que estudou e, hoje, além de atuar na RC, também trabalha como Diretora de Comunicação no Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis (Sescon-PB). “Na Empresa Júnior, eu nunca tive muito problema em ser liderança feminina, o pessoal sempre respeitou. Eu vejo que em muitas empresas reconhecidas já tem mais mulher do que homem, aqui na RC mesmo já tem. Mas, em espaço de liderança, ainda é um pouco tímido”, acredita.

Dez ou oito anos atrás, Dolores ainda testemunhava outra situação, que ela nos oferece como exemplo. Um cliente recebia uma ligação na frente dela, e falava ao interlocutor: “Estou aqui com meu contador, nos falamos depois”. Hoje, porém, o mesmo cliente já fala que está com “a contadora”, no feminino. Dolores comenta que até para estudar ela precisou enfrentar questões por ser mulher e frequentar a escola à noite e trabalhar durante o dia, em uma cidade do interior. Não por conta de eventuais perigos nas ruas, mas por preconceito de gênero mesmo.

“Claro que temos muitas conquistas ainda, mas eu penso que, hoje, com 42 anos trabalhando no escritório de Contabilidade, há muita diferença, mas muita coisa. Hoje eu tenho clientes que saíram do Brasil e que viajam a Curitiba para fazer a declaração comigo. Tem espaço [para a mulher]? Tem! O importante é a gente estar preparada para ocupar este espaço. Independente disso tenho três filhos, passei pelas três gravidezes enquanto contadora, e nunca foram ‘desculpa’. Nem marido foi ‘desculpa’, você conversa com marido, consegue fazer uma parceria, mostrar que juntos nós podemos, ir dividindo as tarefas, nos respeitando como pessoas e como profissionais. Como uma parceira, e não como alguém com quem está competindo”, completa Dolores.

A diretora executiva da De Paula Contadores (GBrasil | Foz do Iguaçu – PR), Elizangela de Paula Kuhn, também vê avanço na presença da mulher no mercado de Contabilidade, mas reforça que ainda há muito a alcançar na política e nas entidades. “Acho que um conjunto de coisas leva a isto, mas a mulher às vezes tem mais resistência a aceitar ocupar estes cargos. Eu tive essa dificuldade quando eu fui presidente da ACIFI. Muitas boas gestoras me diziam ‘ah, eu ajudo você na entidade, mas o cargo eu não quero’. Isto eu ouvi muito”, declara Elizangela, que chama a atenção para a força da estrutura social, que ainda faz com que a mulher acabe tendo mais atribuições em casa, por exemplo. “[A mulher] se exige um pouco mais, ela não quer estar no cargo pelo cargo, tem uma cobrança um pouco maior em cima dela e daí tem medo de não conseguir corresponder, de se frustrar, e recua no aceite da incumbência.”

Uma maior presença da mulher em postos de decisão, ela frisa, não significa que a participação dos homens também não seja essencial. “Sinceramente, eu não gosto muito de separação de gênero, sabe? Eu acho que a gente funciona muito bem somando. O homem é mais objetivo, a mulher é mais subjetiva, é mais no detalhe, tem uma sensibilidade maior. Mas às vezes a objetividade do homem também é super necessária. Então eu gosto muito da soma das coisas”, completa Elizangela, deixando claro que nunca deixou de fazer as coisas por ser mulher, nem teve medo de se posicionar, apesar de já ter passado por momentos difíceis, e ter sofrido preconceito de gênero e até por ser mais nova, especialmente nas entidades. Para Elizangela, a mulher precisa entender a necessidade de tomar assento onde as coisas são decididas, se envolver com política e entidade, além de sua própria empresa.

Elizangela já foi professora universitária e foi a primeira mulher e única presidente da Associação Comercial Industrial de Foz do Iguaçu. Também participou na criação do Observatório Social de Foz do Iguaçu, criado a partir de uma observação do Conselho da Mulher da Associação Comercial, com o papel de cobrar a boa aplicação dos recursos públicos e cidadania fiscal. Atuou ainda por 12 anos no Conselho Regional de Contabilidade, oito deles na vice-presidência, e fez parte do Comitê Gestor da Micro e Pequena Empresa de Foz do Iguaçu desde a fundação.

A diretora da Sercon Serviços Contábeis (GBrasil | Aracaju – SE), Susana Souza, de família de contadores, como também são Rebeca e Elizangela, fala sobre como, na época de seu pai, Contabilidade era uma profissão mais masculina. “Você vê hoje mulheres que se interessam pela Contabilidade como ciência. A Contabilidade é linda, e as pessoas não davam muito valor. Hoje a gente já vê, depois da passagem de grandes mulheres até pelo CFC, que a mulher veio e fez muita diferença. Isto mudou muito de 15 anos, 20 anos pra cá. Você vai aos Congressos, você vê muitas mulheres, você vai a ambientes de mesas de congressos, de banca, você vê que tem mulher, coisa que antigamente era quase que exclusivamente de homens.”

Susana foi presidente por três anos do Sescap-SE e hoje é conselheira, mas também já foi vice-presidente e diretora da entidade. Atuou como diretora administrativa do GBrasil e está como diretora suplente na Fenacon. “Eu olho às vezes um pouco negativa para essas coisas de liderança de sindicato, eu mesma tenho um pé atrás em relação a isto. O povo às vezes quer passar pelas coisas, aliás, quer passar não, quer criar posto. E mulher, não. Mulher quer passar, quer resolver, quer deixar sua marca, e gostaria até que fosse seguida por outras mulheres. A mulher, às vezes, não participa não é nem pela falta de competência ou pela falta de liderança, mas por falta de condição. Mulher se responsabiliza demais pelas coisas. Quer fazer tudo muito certo, quer tomar conta de tudo muito, e aí, de repente, não consegue assumir outras coisas, mesmo tendo aptidão pra isto.”

Susana também reclama da postura de preconceito de muitos homens em relação à liderança de uma mulher, apesar de tantos avanços. “Tem um ‘rançozinho’ de não deixar a mulher tomar a frente, porque eu acho que se deixar a gente toma conta de tudo. No GBrasil tem muita mulher ‘porreta’ que assume mesmo empresa e que tem dado conta do recado. Aí eles que se cuidem, porque a gente está chegando.”

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