Maioria nas faculdades de Ciências Contábeis, elas também vêm se dedicando mais ao empreendedorismo que os homens
As mulheres já são maioria nas escolas de contabilidade, com 57% do total de estudantes nos cursos de Ciências Contábeis no País, o equivalente a 205 mil alunas, segundo o Ministério da Educação (dados de 2016). Nas empresas contábeis, a proporção se inverte: eles representam 57% dos profissionais, e elas, 43% – 222.758 contabilistas do sexo feminino, de acordo com dados de 2018 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). A proporção vem se equilibrando: em 1996, a participação da mulher no cenário contábil era de apenas 27%, contra 77% de registros profissionais masculinos. A entidade prevê que em até cinco anos ocorrerá a equiparação em termos numéricos.
Embora já não exista discrepância na remuneração para homens e mulheres com funções semelhantes na área, segundo a vice-presidente de Fiscalização, Ética e Disciplina do CFC, a contadora Sandra Maria Batista, o que falta alcançar são cargos de liderança. “Em 70 anos de existência do nosso conselho, tivemos apenas uma mulher presidente: Maria Clara Cavalcante Bugarim”, exemplifica. Mas a evolução é contínua e irreversível. “Não queremos competir com os homens, apenas evoluir juntos, em pé de igualdade.”
A sócia da Eaco Consultoria e Contabilidade, Dolores Biasi Locatelli, vem desbravando terreno para as mulheres no mundo contábil desde a década de 1970. Durante anos, foi a única mulher entre os 15 membros do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná. Com outras contadoras, idealizou há 14 anos o Instituto Paranaense da Mulher Contabilista (IPMCont). “A resistência em relação à mulher contabilista sempre foi grande, então, montamos o instituto para trocar ideias e nos prepararmos melhor para assumir nosso papel”, diz.
“Tive muitos enfrentamentos, a ponto de precisar me impor e dizer: ‘Minha opinião também deve ser considerada’. Fui ganhando respeito, as portas foram se abrindo. O essencial é estar preparada, com competência e informações atualizadas, para atuar com qualidade”, indica.
Negócios próprios
No empreendedorismo, os avanços femininos são significativos. Segundo a pesquisa “Donos de Negócios – Análise por Gênero 2015”, realizada pelo Sebrae com dados da Pnad/IBGE de 2014, o número de mulheres donas de negócios no País cresceu 34% entre 2001 e 2014, bem mais do que o de homens, que teve um avanço de 14% no mesmo período. Em 2014, um total de 7,9 milhões de brasileiras eram empresárias, sendo 98,5% delas donas de micros e pequenas empresas.
São empreendedoras como Ana Fontes, que deixou o cargo de executiva em uma empresa para trabalhar por conta própria. Fundou o site Elogieaki e, em 2010, foi uma das 35 selecionadas (entre 800 inscritas) para a versão paulista do 10000 Mulheres, projeto global da Goldman Sachs de capacitação feminina em empreendedorismo. Criou então o blog Rede Mulher Empreendedora para compartilhar o conteúdo aprendido. A audiência cresceu de forma exponencial. Em seis meses, já eram 50 mil seguidoras. Hoje, são quase 500 mil.
Um dos entraves ao avanço ainda é a dificuldade que muitas mulheres têm em assumir a gestão financeira do próprio negócio. “Elas costumam delegar essa tarefa ao marido ou a um sócio, em decorrência de uma construção social que coloca o controle financeiro como tarefa masculina”, afirma Ana.
Transformação começa em casa
A percepção geral é que o preconceito contra a mulher, embora menor, ainda existe. A jornalista Neivia Justa, primeira mulher a chegar à direção da Goodyear em 99 anos de existência da multinacional, luta contra a invisibilidade das mulheres no mundo dos negócios. Criadora da campanha #Onde Estão as Mulheres?, ela exemplifica que reportagens sobre eventos corporativos normalmente mostram apenas homens.
“A questão da igualdade de gênero passou a ser o propósito da minha vida, inclusive por causa das minhas duas filhas”, ressalta. Para Neivia, a mudança deve começar em casa e na escola, para que as novas gerações superem o machismo. “Eu me propus a ser agente de transformação e ajudar a promover o debate.”
Leia a matéria completa na edição de n.º 43 da revista Gestão Empresarial.