Fundador da scale-up brasileira de sistemas de gestão em nuvem para PMEs aponta o modelo de negócio como diferencial para o sucesso das empresas do Silicon Valley
O empreendedor Marcelo Lombardo, CEO da Omie conhece bem seu público-alvo – empresários de contabilidade de praticamente todos os Estados da federação. O seu negócio tem um interesse enorme nos contadores – não como clientes diretos, mas como parceiros e avalistas cruciais de seu produto junto a um mercado gigantesco de pequenas e médias empresas brasileiras. Um mercado, segundo ele, abandonado pelas grandes desenvolvedoras de sistemas ERP – nicho, aliás, do qual já fez parte, fornecendo sistemas para companhias como ArcelorMittal, IRB e Ajinomoto.
Em palestra durante o 51º Encontro GBrasil, Lombardo compartilhou a experiência de crescimento da Omie na pegada dos unicórnios do Vale do Silício e jogou luz sobre um modelo que “felizmente pode ser copiado em qualquer lugar do mundo”.
O produto da Omie é uma grande plataforma de gestão na nuvem para as PMEs. A ferramenta reúne, em um único lugar, sistema de gestão (ERP e CRM), educação empreendedora e serviços financeiros. Seu grande diferencial é entregar um serviço sofisticado, completo e com alto potencial integrador, dotado de recursos até então inatingíveis para a maior parte dos pequenos empresários brasileiros.
O mercado tem adotado a plataforma como um braço direito para as PMEs atingirem a profissionalização e a automação de seus negócios e como um acelerador do serviço contábil, eliminando etapas e processos nas rotinas fiscal e financeira. Por esse motivo, os contadores vêm se tornando os principais evangelizadores da ferramenta.
Alessandra Ribeiro, do Grupo Fatos, comenta com entusiasmo sobre a plataforma Omie. “É uma ferramenta completa, com vertentes para comércio, indústria e serviços. É também de fácil operação. Implantamos o sistema em apenas cinco horas, incluindo a importação de cadastro de clientes, fornecedores e plano de categoria para geração de relatórios. Com essas demonstrações, é possível visualizar os resultados da empresa com muito mais facilidade. A nossa meta é implantar o sistema Omie em todos os nossos clientes que não tenham seu próprio ERP”.
O alto índice de aprovação do produto tem a ver também com a filosofia da Omie de fomentar o crescimento dos pequenos empresários, seja com recursos de mentoria e aprendizagem empreendedora ou com oferta de serviços financeiros. Essa fórmula permitiu a ela, nos primeiros cinco anos de existência, somar 23 mil clientes, saltar de 7 para 700 colaboradores e construir uma sólida rede de distribuição na América Latina por meio de 120 franquias. Ao todo, as notas fiscais emitidas pelos clientes da Omie entre 2018 e 2019 somaram perto de R$ 66 bilhões.
Esse crescimento exponencial foi rastreado por uma pesquisa da Delloite feita entre 2015 e 2018. O levantamento classificou a Omie em terceiro lugar no ranking das 100 pequenas e médias empresas nacionais que apresentaram as mais altas taxas de expansão, considerando a receita líquida.
Dando um nó na cabeça
Lombardo alterna momentos de euforia e de decepção ao narrar sua maratona desde a fundação da Omie, em 2013. Naquela época, começou a seguir a trilha de ouro do Vale do Silício, onde estão algumas das maiores empresas mundiais de tecnologia, com valor superior a US$ 100 bilhões. “É impressionante o que ocorre naquela região. Não existe paralelo no planeta de tamanha distorção. Se pegarmos as 150 empresas mais valiosas do Silicon Valley, elas equivalem a 50% do total de capitalização da Nasdaq. Uma área tão pequena, com 0,05% da população mundial, é responsável por 5% do valor de capitalização do mundo”, compara.
“O modelo de crescimento é muito diferente do modelo para o qual fomos educados, em que se investe um pouco, se lucra, se reinveste e assim por diante, até que em 30 anos – com sorte e sem levar pancada de disrupção –, você atinge alto volume de produção, mas muitas vezes com um baixo rendimento. Ali no Vale, uma boa ideia dá um salto direto para o alto volume, mesmo apresentando prejuízo. Os fundos de investimento compram o ‘futuro’ e oferecem gasolina para você chegar lá, mesmo com baixos resultados. A ordem é: ganhe mercado e em dois ou três anos vocês pivota o negócio para a lucratividade”, relata o CEO
É dessa forma que as startups crescem e, mesmo em prejuízo, fazem sua estreia na Nasdaq. “O valor da ação, no IPO, não é calculado pelo Ebtida, mas por um múltiplo da receita anual projetada”, explica Lombardo.
Mas quando esse futuro não se concretiza e a inovação não ganha público consumidor, a base de conhecimento gerada por ela também se torna um ativo que é absorvido pelo mercado e transformado em rendimento para os investidores. “Esse modelo é tão legal que até quando ele dá errado, também não é ruim”, brinca o empreendedor.
Outra justificativa do sucesso no Vale do Silício, segundo Lombardo, é a preferência por modelos disruptivos, que quebram totalmente os paradigmas do mercado: “O mindset deles é abraçar a disrupção sem medo, conscientes de que ela vem em ondas”.
O CEO destaca que a tomada de decisões das empresas inovadoras também é pautada por KPIs bem diferentes. “Em vez de dados como Ebtida, faturamento, margem líquida, etc., eles olham para indicadores como CAC – custo de aquisição do cliente, margem bruta, payback, churn e LTV”.
Para as empresas já sedimentadas que querem abraçar a inovação, o fundador e CEO da Omie dá um conselho: aderir a modelos ambidestros de gestão, como o da IBM. “Numa arquitetura ambidestra, a empresa consegue fazer o gerenciamento de seu negócio atual e, em paralelo, conduzir projetos de inovação”.